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Estudo da Feevale indica que cerca de 30% das pessoas positivadas para Covid-19 na região não apresentam febre

Desde o início da pandemia de Covid-19, tornou-se uma necessidade a produção de dados epidemiológicos que fossem disponibilizados de forma rápida para orientar a avaliação clínica e a caracterização da doença causada pelo vírus SARS-CoV-2. Nesse sentido, a acadêmica do mestrado em Virologia da Universidade Feevale, Débora Couto da Rosa, vem realizando o estudo Avaliação de sintomas clínicos de pacientes com Covid-19 nas mesorregiões Metropolitana e Nordeste do Rio Grande do Sul, orientado pela professora Juliane Fleck.

A pesquisa coletou, do banco de dados interno da Instituição, as informações clínicas dos pacientes sintomáticos com suspeita de Covid-19, testados para SARS-CoV-2 por RT-qPCR, no Laboratório de Microbiologia Molecular da Feevale. O objetivo é produzir um estudo que analise a possível associação entre a detecção do vírus e os sintomas apresentados nas regiões de abrangência das coletas, informações essas que podem auxiliar na triagem e no diagnóstico clínico da doença.

Os dados preliminares analisados contam com um total de 4.556 pacientes, sendo estes divididos por período de pandemia. O primeiro período, denominado “pré-pico”, abrange as amostras analisadas de março a junho de 2020, totalizando 3.942 pacientes, sendo 1034 testados positivos para SARS-CoV-2 e 2.908 negativos. Já o segundo período, “pico de inverno”, refere-se ao mês de julho de 2020, do qual 653 pacientes foram incluídos nessa análise preliminar, sendo 430 pacientes positivos e 223 negativos para Covid-19. Para avaliar a associação entre os sintomas e a doença, foi utilizado o teste estatístico de Qui-Quadrado (X2), sendo seus resultados e a frequência dos sintomas apresentados na tabela mais abaixo.

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Débora explica que, apesar de a febre ser o sintoma mais frequente na maioria dos estudos sobre Covid-19, não foi possível estabelecer associação com a doença. Devido às frequências de sintomas quase iguais em pacientes com e sem detecção de SARS-CoV-2, não houve associação significativa. “Ainda assim, quando tentamos associar múltiplos sintomas à presença do vírus, a frequência desses permanecem semelhantes aos pacientes negativos”, esclarece.

Esses resultados preliminares indicam que não há sintomas específicos associados a essa nova doença viral na região estudada, e que a presença de qualquer manifestação clínica não é um indicativo de positividade ou negatividade para SARS-CoV-2 em pacientes sintomáticos, tendo em vista que os sintomas comumente observados também podem ser causados por outros vírus respiratórios, como o Influenza (vírus causador da gripe). “Além disso, de acordo com estudos internacionais, a porcentagem da população infectada pelo vírus que não apresenta sintomas pode chegar até 80%, e como podemos observar nos resultados do estudo, dentre a população classificada como sintomática, as frequências dos sintomas são extremamente variadas”, diz a mestranda.

“Nesse contexto, é relevante destacar que, embora muitos estabelecimentos utilizem a medida de temperatura como indicativo da doença, 30% a 45% dos pacientes sintomáticos com Covid-19, incluídos nesta análise preliminar (período pré-pico e pico de inverno, respectivamente), não apresentaram febre”, argumenta Débora. “Além disso, temos os assintomáticos, que também transmitem o vírus e não apresentam nenhum sintoma. E, por mais que todas as medidas de segurança sejam tomadas para a entrada em qualquer local, mensurando-se somente um dos múltiplos sintomas, não se assegura inexistência de infecção por SARS-CoV-2, tampouco necessariamente indica que se trata da Covid-19”, afirma.

A pesquisa indica, assim, que a ausência de associação com os sintomas acarreta a impossibilidade do diagnóstico clínico da doença, ou seja, por meio apenas da avaliação sintomática. “Os resultados, embora preliminares, revelam a necessidade de que o diagnóstico seja realizado por RT-qPCR, visto a inespecificidade dos sintomas. Além disso, é fundamental a manutenção das medidas de prevenção, assim como a realização da triagem de contatos com casos confirmados”, lembra a professora Juliane Fleck.

Em todo o mundo, muitas manifestações clínicas diferentes foram relatadas e vários estudos foram realizados a fim de estabelecer os sintomas da Covid-19. Observou-se que esses variam entre os diferentes locais: um estudo na China, por exemplo, indicou febre e tosse como os sintomas mais comuns; outro estudo na Alemanha teve a coriza também presente. Porém, em um estudo hospitalar, na Itália, febre e dispneia se sobressaíram e, nos Estados Unidos, tosse, febre/calafrios e dificuldades respiratórias destacaram-se, entre outros sintomas, em uma pesquisa com pacientes hospitalizados.

No Rio Grande do Sul, até o dia 5 de janeiro, segundo a Secretaria Estadual de Saúde do RS, os sintomas mais comuns em pacientes confirmados com o coronavírus são tosse (43%), febre (32%), dor de garganta (29%), dispneia (15%) e outros (58%). Contudo, ainda não havia estudos de associação entre detecção do vírus com os sintomas apresentados na região estudada, sendo o da Universidade Feevale inédito nesse sentido. “Estudos de avaliação dos sintomas nas diferentes regiões e períodos da pandemia são relevantes, para que se busque compreender as características da doença e, posteriormente, se possível, associar com elementos que podem interferir na manifestação dos mesmos”, conclui a professora Juliane Fleck.

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